Origem

Com a proclamação da República, o governo provisório instituiu um concurso para a adoção de novo hino nacional. O hino que obteve o primeiro lugar no concurso, realizado no Teatro Lírico, do Rio de Janeiro RJ, a 20 de janeiro de 1890, com música de Leopoldo Miguez e letra de Medeiros e Albuquerque, não chegou a ser oficializado como o hino nacional brasileiro, tendo sido apenas decretado (Decreto nº 171, de 20 de janeiro de 1890) como Hino da Proclamação da República.

Hino

Hino da Proclamação da República do Brasil tem letra de Medeiros e Albuquerque (1867 - 1934) e música de Leopoldo Miguez (1850 - 1902). Publicada no Diário Oficial de 21 de Janeiro de 1890.

SEJA UM PÁLIO DE LUZ DESDOBRADO.

SOB A LARGA AMPLIDÃO DESTES CÉUS

ESTE CANTO REBEL QUE O PASSADO

VEM REMIR DOS MAIS TORPES LABÉUS!

SEJA UM HINO DE GLÓRIA QUE FALE

DE ESPERANÇA, DE UM NOVO PORVIR!

COM VISÕES DE TRIUNFOS EMBALE

QUEM POR ELE LUTANDO SURGIR!

LIBERDADE! LIBERDADE!

ABRE AS ASAS SOBRE NÓS!

DAS LUTAS NA TEMPESTADE

DÁ QUE OUÇAMOS TUA VOZ!

NÓS NEM CREMOS QUE ESCRAVOS OUTRORA

TENHA HAVIDO EM TÃO NOBRE PAÍS...

HOJE O RUBRO LAMPEJO DA AURORA

ACHA IRMÃOS, NÃO TIRANOS HOSTIS.

SOMOS TODOS IGUAIS! AO FUTURO

SABEREMOS, UNIDOS, LEVAR

NOSSO AUGUSTO ESTANDARTE QUE, PURO,

BRILHA, AVANTE, DA PÁTRIA NO ALTAR!

LIBERDADE! LIBERDADE!

SE É MISTER QUE DE PEITOS VALENTES

HAJA SANGUE EM NOSSO PENDÃO,

SANGUE VIVO DO HERÓI TIRADENTES

BATIZOU ESTE AUDAZ PAVILHÃO!

MENSAGEIROS DE PAZ, PAZ QUEREMOS,

É DE AMOR NOSSA FORÇA E PODER

MAS DA GUERRA NOS TRANSES SUPREMOS

HEIS DE VER-NOS LUTAR E VENCER!

LIBERDADE! LIBERDADE!

DO IPIRANGA É PRECISO QUE O BRADO

SEJA UM GRITO SOBERBO DE FÉ!

O BRASIL JÁ SURGIU LIBERTADO,

SOBRE AS PÚRPURAS RÉGIAS DE PÉ.

EIA, POIS, BRASILEIROS AVANTE!

VERDES LOUROS COLHAMOS LOUÇÃOS!

SEJA O NOSSO PAÍS TRIUNFANTE,

LIVRE TERRA DE LIVRES IRMÃOS!

LIBERDADE! LIBERDADE!

Vocabulário

Audaz: corajoso

Augusto: majestoso

Aurora: nascer do sol

Brado: grito

Estandarte: bandeira

Hostis: inimigos

Labéus: desonras

Lampejo: clarão

Louçãos: vistosos

Louros: glórias

Mister: necessário

Outrora: em outro tempo

Ovante: vitoriante

Pálio: manto

Pendão: bandeira

Porvir: tempo futuro

Púrpuras: vermelhos-escuros

Rebel: revoltoso

Régias: reais

Remir: redimir

Rubro: vermelho

Soberbo: orgulhoso

Tiranos: governantes cruéis

Torpes: repugnantes

Transes supremos: momentos decisivos

Pequena biografia de Medeiros e Albuquerque

Medeiros e Albuquerque (José Joaquim de Campos da Costa de M. de A.), jornalista, professor, político, contista, poeta, orador, romancista, teatrólogo, ensaísta e memorialista, nasceu em Recife, PE, em 4 de setembro de 1867, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 9 de junho de 1934. Em 1896 e 1897, compareceu às sessões preliminares de instalação da Academia Brasileira de Letras. É o fundador da Cadeira n. 22, que tem como patrono José Bonifácio, o Moço.

Era filho do dr. José Joaquim de Campos de Medeiros e Albuquerque. Depois de aprender as primeiras letras com sua mãe, cursou o Colégio Pedro II. Em 1880, acompanhou o pai em viagem para a Europa. Em Lisboa, foi matriculado na Escola Acadêmica, e ali permaneceu até 1884. De volta ao Rio de Janeiro, fez um curso de História Natural com Emílio Goeldi e foi aluno particular de Sílvio Romero. Trabalhou inicialmente como professor primário adjunto, entrando em contato com os escritores e poetas da época, como Paula Ney e Pardal Mallet. Estreou na literatura em 1889 com os livros de poesia Pecados e Canções da decadência, em que revelou conhecimento da estética simbolista, como testemunha a sua "Proclamação decadente".

Em 1888 estava no jornal Novidades, ao lado de Alcindo Guanabara. Embora tivesse entusiasmo pela idéia abolicionista, não tomou parte na propaganda.

Fazia parte do grupo republicano. Nas vésperas da proclamação da República, foi a São Paulo em missão junto a Glicério e Campos Sales. Com a vitória da República, foi nomeado, pelo ministro Aristides Lobo, secretário do Ministério do Interior e, em 1892, por Benjamin Constant, vice-diretor do Ginásio Nacional.

Foi professor da Escola de Belas Artes (desde 1890), vogal e presidente do Conservatório Dramático (1890-1892) e professor das escolas de 2o grau (1890-1897).

É o autor da letra do Hino da República.

Simultaneamente às atividades de funcionário público, exercia as de jornalista. Durante o período florianista, dirigiu O Figaro. Foi nesse jornal que teve ocasião de denunciar a deposição que se tramava em Pernambuco do governador Barbosa Lima. Em 1894, foi eleito deputado federal por Pernambuco. Medeiros estreou na Câmara conseguindo a votação para lei dos direitos autorais.

Em 1897, foi nomeado diretor geral da Instrução Pública do Distrito Federal. Estando na oposição a Prudente de Moraes, foi forçado a pedir asilo à Embaixada do Chile. Demitido do cargo, foi aos tribunais defender seus direitos e obteve a reintegração.

Voltou também à Câmara dos deputados, formando nas fileiras de oposição a Hermes da Fonseca. Durante o quatriênio militar (1912-1916), foi viver em Paris.

De volta ao Brasil, defendeu a entrada do Brasil na guerra que devastava a Europa, em campanha que contribuiu para o rompimento de relações do Brasil com a Alemanha. Suas conferências se tornaram famosas no Rio de Janeiro. Ocupou a Secretaria Geral da ABL de 1899 a 1917. Foi autor da primeira reforma ortográfica ali promovida. Foi quem respondeu a Graça Aranha, quando do rompimento deste com a Academia.

Por ocasião da campanha da Aliança Liberal, esteve ao lado do governo Washington Luís. Vitoriosa a revolução de 30, refugiou-se na Embaixada do Peru. De 1930 a 1934, dedicou-se às atividades de colaborador diário da Gazeta de São Paulo e de outros jornais do Rio de Janeiro e às suas múltiplas atividades na Academia, onde fazia parte da Comissão do Dicionário e era redator da Revista. Empenhou-se nos debates então travados em torno da simplificação da ortografia. Era um grande defensor da idéia da simplificação, e seu último artigo na Gazeta de São Paulo, publicado no dia de sua morte, versou sobre esse assunto. Na imprensa, escreveu também sob os pseudônimos Armando Quevedo, Atásius Noll, J. dos Santos, Max, Rifiúfio Singapura.

Obras

POESIA: Pecados (1889); Canções da decadência (1889); Poesias 1893-1901 (1904); Fim (1922); Poemas sem versos (1924); Quando eu falava de amor (1933).

CONTOS: Um homem prático (1898); Mãe Tapuia (1900); Contos escolhidos (1907); O assassinato do general (1926); O umbigo de Adão (1932); Se eu fosse Sherlock Holmes (1932); Segredo conjugal, em colaboração com outros (1934); Surpresas (1934).

ROMANCES: Marta (1920); Mistério, em colaboração (1921); Laura (1933).

TEATRO: O escândalo, drama (1910); Teatro meu... e dos outros (1923).

ENSAIOS E CONFERÊNCIAS: Em voz alta (1909); O silêncio é de ouro (1912); Pontos de vista (1913); Graves e fúteis (1922); A obra de Júlio Dantas (s.d.); Literatura alheia (1914); Páginas de crítica (1920); Homens e coisas da Academia (1934).

MEMÓRIAS E VIAGENS: Por alheias terras... (1931); Minha vida Da infância à mocidade 1867-1893 (1933); Minha vida Da mocidade à velhice 1893-1934 (1934); Quando eu era vivo... Memórias 1867 a 1934, edição póstuma e definitiva (1942).

PENSAMENTOS E POLÊMICAS: Pensamentos de Medeiros e Albuquerque. Coligidos por Maurício de Medeiros (s.d.); Polêmicas. Coligidas e anotadas por Paulo de Medeiros e Albuquerque (1941).

POLÍTICA: O regímen presidencial no Brasil (1914); Parlamentarismo e presidencialismo (1932). Publicou ainda discursos e conferências na Revista da Academia; dirigiu e prefaciou a edição das Poesias completas de Pedro II.

Pequena biografia de Leopoldo Miguez

Leopoldo Américo Miguez (Niterói, 9 de setembro de 1850 — Rio de Janeiro, 6 de julho de 1902) foi um compositor, violinista e maestro brasileiro.

Aos 32 anos viajou para a Europa por sua conta a fim de aperfeiçoar-se. Regressou ao Brasil convertido ao credo wagneriano e a princípio destacou-se como regente. Era um ativo republicano e é de sua autoria o Hino da Proclamação da República, que não chegou a ser o hino nacional por esclarecida decisão do marechal Deodoro. Mas o velho Conservatório de Francisco Manuel já há muito necessitava remodelação e, dois meses depois do 15 de Novembro, era criado o Instituto Nacional de Música, sendo Leopoldo Miguez nomeado seu diretor.

Ao comentar a música de Miguez, recordam-se os poemas sinfônicos Parisiana e Prometeu, a ópera Os Saldunes, a Sinfonia em Si bemol e as peças de câmara: Quarteto para piano e cordas, o Quinteto para piano e cordas, a Sonata para violino e piano e o Allegro appassionato, para piano solo. Foi um músico competente, excelente organizador, mas faleceu cedo, aos 52 anos apenas. Foi sobretudo o grande continuador de Francisco Manuel e o renovador do ensino da música no Brasil no início do século XX.

Obras principais

• Música dramática: Pelo amor!; I Salduni (Os Saldunes).

• Música orquestral: Sinfonia em sol bemol (1882); Parisiana (1888); Ave libertas (1890); Prometheus (1891); Marcha elegíaca a Camões (1880). Marcha nupcial (1876); Hino à Proclamação da República (1890).

• Música de câmara: Silvia; Suite à l’antique (1893); Trio;

• Música Instrumental: Allegro appassionato; Noturno; Reina a paz em Varsóvia; Concerto para contrabaixo e piano.

• Música vocal: Branca aurora; Le Palmier du Brésil; A Instrução.